sexta-feira, 14 de maio de 2010

O QUE É O TERMO "ESQUERDA"




A REVOLUÇÃO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA, a globalização e o fim do "socialismo realmente existente" minaram o significado tradicional do termo (plural, sempre) -o que, a rigor, foi prenunciado no estranho ano de 1968. Isso porque as esquerdas, associadas na origem a lutas por mudanças no sentido da liberdade e da igualdade, tornaram-se, frequentemente, pelas vicissitudes históricas, defensoras do status quo, das desigualdades, dos privilégios e, não raro, de tiranias. Apesar dos desgastes, contudo, talvez pela força da tradição, o termo continua impregnado pelos valores e programas originários. A ver se, ante os desafios do novo século, consegue "aggiornarse" [reciclar-se", recuperando os ideais e o charme que já foram seus, ou se tornará uma relíquia datada nos museus da história.
[Daniel Aarão Reis Filho é professor de história na Universidade Federal Fluminense e autor de, entre outros, "História do Marxismo no Brasil" (ed. Paz e Terra)]

PREFIRO ATIVISMO, MILITÂNCIA E REBELDIA. A metáfora espacial é pálida ("lado correspondente ao do coração humano") ou negativa: "sinistra". É um desejo e como tal não pode ter como base o dever ou a disciplina. Se fosse preciso uma palavra para reconhecer a nova militância, eu escolheria "desobedientes", atividade positiva, construtiva, afetiva. A militância atual não precisa de centro, mas de redes, não precisa definir o que é "de direita" e "de esquerda", porque para os novos ativistas só existe "o lado de dentro". Não possui nenhum modelo pronto para oferecer. É um laboratório mundial. Outra característica da nova militância: fazer da resistência um ato de criação, um contrapoder. Para enfrentar um poder sem fronteiras nem limites, mutante, a nova militância terá que ser igualmente fluida e plástica. Criar novos ícones e ser pop. Conectar a gente das ruas com hackers, nômades, rebeldes. E pode até "na mão direita uma rosa levar"...
[Ivana Bentes é professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora, entre outros, de "Joaquim Pedro de Andrade" (ed. Relume-Dumará)]

ORIGINALMENTE A PALAVRA DESIGNAVA OS ATORES QUE durante a Revolução Francesa, defendiam uma radicalização de seus ideais de igualdade e liberdade -os jacobinos em primeiro lugar. Nos séculos seguintes esteve associada à idéia de revolução social. Hoje o termo não possui um sentido claro e unívoco na cena política internacional. Pode, no entanto, ser aplicado aos partidos e atores políticos para os quais a comunidade prevalece sobre o indivíduo na escolha das prioridades das políticas públicas. Para eles a igualdade se estende, para além de seu sentido jurídico, para o terreno das oportunidades sociais. Outra idéia importante é a de que a participação popular ampliada é considerada parte essencial da vida política.

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